A importância do ´Bate e Volta´ para a indústria turÃstica
Tecnicamente eles são chamados de Full Day – Dia Completo - ou Day Use, que é a mesma coisa. Porém, no diferente - e bom! - português do Brasil, é Bate e Volta. Há mais ‘tours’, ‘excursões’, ou ‘passeios turísticos’ deste tipo do que se pode imaginar. E no mundo inteiro! Em Roma, por exemplo, brasileiros lotam ônibus às seis horas da manhã para ir à Pompéia. E no Brasil são muitas as saídas de cidade a cidade para passear, conhecer, aproveitar as férias, a ocasião, o tempo e os recursos disponíveis.
Mas, a falta de profissionais nos órgãos gestores do turismo criou uma imagem destes passeios completamente diferente da que os interessados têm deles. Quem vai ao Rio de Janeiro, por exemplo, quer conhecer Angra dos Reis e Parati, de um lado, Búzios, de outro, e Petrópolis também! Acontece que estes lugares não estão dentro da cidade do Rio de Janeiro, e ninguém pode impedir o visitante de conhecê-los. Mas, se depender dos gestores do turismo brasileiro, lugares como estes e outros, não serão visitados.
Dois atrativos baianos sofrem as conseqüências desta postura: Mangue Seco e Morro de São Paulo! O primeiro, absurdamente, ainda não tem acesso para carros comuns, não tem um porto à altura da sua fama e do razoável número de visitantes diários que chegam ali, procedentes de Salvador ou Aracaju, e tem desestimulado as agências que vendem o atrativo devido as interferências arbitrárias da prefeitura de Jandaíra, sem fiscalização do Ministério do Turismo e ministérios públicos, pois o prefeito Roberto Leite, PMDB, proibiu até a iniciativa privada de formar parcerias. O local é uma APA – Área de Proteção Ambiental – famoso pela obra de Jorge Amado, atrai pessoas de diferentes lugares do Brasil e do mundo, e poderia oferecer turismo ecológico e de aventura com qualidade, e cobrar taxa de visitação, como outros atrativos naturais.
Morro de São Paulo é um dos lugares mais bonitos do mundo, porém o acesso ao lugar é precaríssimo. Não há vôos para a região, os barcos que saem de Salvador direto para o lugar estão obsoletos - as heróicas companhias que se propuseram a ligar o atrativo a capital baiana precisam de ajuda para modernizar suas frotas – e a maneira mais utilizada, via Itaparica e rodovia BA 001, se tornou vergonhosa devido a falta de espaço adequado e barco turístico para atravessar a Baía de Todos os Santos, a impressionante quantidade de lixo que se vê na estrada, dentro da ilha, os buracos e os riscos no trecho entre Nazaré das Farinhas e Valença, e a falta de porto moderno em Morro de São Paulo, devido a queda de braço entre o governo do estado e a prefeitura de Cairú. Tudo isto por falta de atuação dos órgãos e gestores do turismo da Bahia!
Gestores em geral estão ligados à elite econômica de cada região e aos partidos políticos que determinam investimentos, e muitos deles são completamente despreparados para determinadas atividades. No caso do Turismo, há lugares onde grupos e gestores têm seus próprios interesses e planos, isolando ou desperdiçando verdadeiros paraísos de férias, ou confundem tours profissionais, mesmo o ‘Bate e Volta’, com excursões improvisadas e mal conduzidas, supostamente predadoras ou perturbadoras da ordem.
Porém, em todos os lugares aonde chegam estas excursões, elas fomentam a economia deles, em muitos casos turistas pagam taxas de visitação que ficam com diferentes órgãos públicos, como os R$ 15,00 para preservação ambiental que se paga na entrada de Morro de São Paulo – são 200 pessoas, em média, diariamente! - ou os R$ 42,00 diários em Fernando de Noronha, entre outros. Turistas contratam pequenos serviços nestes lugares, consomem nos restaurantes e compram lembranças nas lojas, sustentando empregos e gerando renda para famílias e impostos para governantes, e, principalmente, são os mais eficientes instrumentos de propaganda deles!
Gestores sonham em lotar estes lugares, e prometem isto aos pequenos investidores que são obrigados a pagar impostos, mesmo sem terem clientes. Eles acreditam que a publicidade é bastante, para tanto gastam rios de dinheiro em medidas inócuas, e esquecem dos pólos emissores, São Paulo, Buenos Aires, Europa, etc., seus padrões de vida e expectativas, como acessibilidade, limpeza, serviços, e segurança. A própria Salvador está penando com esta falta de profissionalismo, com o arruinamento, a insegurança e o descaso com a principal âncora de toda a região, que é o Pelourinho e a obra do Jorge Amado, e está esvaziando, desestimulando a vinda de pessoas que sairiam em ‘Bate e Volta’ para Mangue Seco, Morro de São Paulo ou Cachoeira.
O autor José Queiroz é guia de turismo e agente de viagem especializado em Turismo Receptivo